Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Aproxima-se a festa do Natal do Senhor. As famílias e as comunidades movimentam-se para preparar a vinda do Senhor na comemoração do seu nascimento.

Uma das formas de se prepararem é certamente o uso da coroa chamada Coroa de Advento. Ela não faz parte propriamente da Liturgia. Contudo, nos últimos tempos, começou a ser usada mesmo durante a celebração eucarística no Tempo de Advento acompanhando as quatro semanas deste Tempo litúrgico. Trata-se de um subsídio de criatividade litúrgica. Não é enfeite de Natal, mas um símbolo do Advento acolhido com muito amor e entusiasmo pelo povo fiel. Constitui, portanto, útil iniciativa a divulgação por vídeos da história, do simbolismo e das celebrações da Coroa de Advento em preparação do Santo Natal.

Infelizmente, hoje em dia no Brasil, a Coroa de advento está muitas vezes a serviço do comércio “religioso”: oferta de velas de várias cores (e quanta polêmica em torno disso!), e, sobretudo, fornecimento de apoios ou suportes artísticos para o uso da coroa nas igrejas. Além disso, a coroa é usada muitas vezes como mero ornamento da igreja no tempo do Advento.

Desde suas origens a coroa de Advento tem como centro a proclamação e a meditação da Palavra de Deus, com forte compromisso social. Esta prática surgiu na cidade de Hamburgo no Norte da Alemanha (1833), no contexto da preparação de jovens carentes para a celebração do Santo Natal. Um pastor luterano começou a reunir jovens em abrigo para meditar com eles trechos da Sagrada Escritura referentes à vinda do Messias Salvador. Pediu aos rapazes trazerem velas consigo. Constituíam um grupo de umas 25 pessoas.

Para não ficarem segurando as velas o tempo todo na mão, o pastor pediu a um marceneiro a preparação de uma roda com furos para se colocarem as velas. Surgiu, então, a coroa de luzes. O Natal é a festa das luzes, da Luz do Mundo, Cristo Jesus. Os rapazes quiseram enfeitar o círculo com ramos de abeto, árvore que se mantém verde durante o inverno nórdico. Daí a coroa enfeitada de verde. Vale lembrar que a coroa sempre foi símbolo da vitória e da recompensa. Como no início do inverno a luz começa a vencer as trevas, os dias vão se tornando mais longos, Cristo, luz do mundo, apresenta-se como vencedor do pecado e da morte.

Este costume da coroa de luzes passou para as casas de família. Em vez da coroa grande, eis uma coroa com quatro velas, representando os quatro pontos cardeais ou as quatro fases da História da salvação, ou ainda, as quatro vindas de Deus a este mundo. O costume das coroas nas casas de família bem como nas portas das casas se generalizou entre os luteranos com firme rejeição dos católicos. Em vez de velas, começaram a se usar quatro laços vermelhos, lembrando, inclusive, o sangue redentor do Messias. As velas tinham simplesmente a cor de velas, ou seja, de cera. Mais tarde também se adotou o uso de quatro velas vermelhas.

Só entre as duas grandes guerras, pelos anos de 1930, é que também os católicos, sobretudo, na Alemanha e na França, aderiram ao uso da coroa de Advento. Isso no âmbito das famílias.

No Brasil a Coroa de Advento começou a ser usada nas comunidades e nas igrejas somente após alguns anos do Concílio Vaticano II. A prática foi muito pouco usada nas famílias. Entre os luteranos no Sul do Brasil era comum ver a coroa de Advento pendurada nas portas das casas. Era sinal de Advento, de proximidade do Santo Natal.

Não é o caso de tratar aqui do simbolismo da coroa de Advento nem das celebrações. Os vídeos o farão de forma mais abrangente. Eles também explicitarão o seu uso nas igrejas sem se tornarem meros adornos do Tempo do Advento.

No Brasil deparamo-nos com certo problema pastoral em relação ao verdadeiro sentido, valor e prática da Celebração da Coroa de Advento. Existe como que uma duplicação de preparação do Natal. Por um lado, as chamadas “novenas” de Natal (não são nove celebrações, mas apenas quatro, nas quatro semanas do Advento; cada celebração é curiosamente chamada de novena!), e a Celebração da Coroa de Advento. É pena tal sobreposição! As celebrações de preparação do Santo Natal, certamente apresentam grande valor pastoral com ricos efeitos espirituais. Se analisarmos bem, creio que as Celebrações da Coroa de Advento chegam a ser mais ricas, inclusive, pelo seu caráter bíblico, familiar e de compromisso social. Importante é que a Coroa de Advento não se apresente simplesmente como mero objeto de adorno das nossas igrejas no Tempo do Advento. O ideal seria que fosse praticada em família, incluindo todo um processo participativo de preparação da coroa tão rica em simbolismos, numa amorosa colaboração entre pais, filhos e parentes.

A todos Boas Festas, não do “Papai Noel”, mas do Natal de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Filho de Maria.