Clara e Francisco, os dois se encontram num mesmo caminho de Amor

Neste dia tão especial em que comemoramos Santa Clara de Assis, a florzinha do jardim de Deus, confira a grandeza e a pureza do amor partilhado por Francisco e Clara pelas palavras de Frei Vitório Mazzuco.


Por Frei Vitório Mazzuco Filho, ofm.

Clara de Assis deu uma resposta pessoal ao Senhor de um modo muito livre. Teve a ajuda primeira de sua mãe, Hortolana, que a iniciou nos caminhos da oração e das obras. O processo de Canonização, a partir dos testemunhos de Pedro de Damião, diz que ela “cultivava a vida espiritual” (PC 19,2); e João Ventura depões dizendo que Clara “jejuava e permanecia em oração e praticava outras obras piedosas, como ele próprio pôde observar. E todos estavam persuadidos de que era o Espírito Santo que a inspirava” (PC 20,5). A Irmã Pacífica confirma: "Por todos era conhecida como pessoa de grande honestidade, de vida exemplar e se ocupava muito em obras de caridade” (PC 1,1).

Clara de Assis fez os caminhos costumeiros de exercícios de conversão, isto é, oração, jejum, obras de misericórdia, retidão moral e o deixar-se conduzir pelo Espírito do Senhor. Isso faz de Clara de Assis uma pessoa que é percebida pelas suas virtudes. A Irmã Benvinda de Perúsia afirma “que a consideravam virgem de corpo e alma e que, mesmo antes de entrar na religião, era tida em muita estima por todos os que a conheciam” (PC 2,2). Ver em Clara a bondade, honra, humildade e virgindade não são apenas dados morais e físico, mas sim as marcas de uma força interior de uma mulher que desposa Jesus Cristo, no máximo de sua Pobreza. Viver a Pobreza é um ato de extrema confiança, entrega e abandono ao tudo do Amor e a não precisar de nada por causa deste Amor.



Clara de Assis pertence ao seu Senhor de um modo total e, por isso, faz de si um dom para todos. Sua fama em Assis está no fato de ser uma mulher exemplar para todos. “A fama pública na cidade considera-a por isso uma jovem irrepreensível e digna de estima. O eco destas considerações terá chegado, sem dúvida, até à interessada, sem porém influenciar o seu modo de ser, continuando sempre benigna e humilde para com todos. O seu caráter pessoal, que a fazia centrar em Deus a própria vida, dá-lhe forças para Lhe consagrar a sua vontade e deixa-a, ao mesmo tempo, interiormente aberta para descobrir onde e como realizar em si o desígnio do Pai”. (Cremaschi, "Chiara Giovanna, Clara de Assis, Um silêncio que grita", Editorial Franciscana, Braga, p.37).

Em Assis a notícia corrente é a impactante conversão de Francisco, filho de Pedro Bernardone, que rompe com tudo e inicia um original caminho de vivência radical do Evangelho. Clara de Assis se une ao momento social, eclesial e espiritual de Assis. Não há como sentir que Francisco instaura um novo sentido de fraternidade, pobreza extrema e vivência junto aos marginalizados de então. O jovem Rufino, primo de Clara, já está com Francisco pelas ruas e estradas de Assis anunciando a paz. Os dois pregam na catedral de Assis. Ao ouvir Francisco, Clara está em plena sintonia de coração e palavra. Clara e Francisco já não estão mais presos ao mundo das convenções sociais. Francisco ainda é visto com desconfiança pelos habitantes de Assis que o considera uma pessoa fora do juízo. Mas o que questionar em Clara?

A silenciosa e discreta moça nem aos seus parentes revela seus planos de seguir o Esposo. Mas vai até Francisco contar seus segredos. Acompanhada de sua amiga e governanta Bona Gelfuccio, vai encontrar-se com ele. Francisco a recebe acompanhado de um de seus irmãos, Filipe Longo. A conversa gira em torno da contagiante alegria espiritual do seguimento apaixonado do Senhor, de pertencer ao caminho da Pobreza total, de trocar as experiências do mesmo desejo que fazem vibrar a interioridade.

Irmã Beatriz diz no processo: “Conhecendo São Francisco a fama da sua santidade, encontrou-se com ela várias vezes para lhe falar do Evangelho” (PC 12,2). Quem procurou quem? Não sabemos com certeza. Almas profundas de humanidade, amor e divindade se acham naturalmente. Um encontrou o outro. Francisco encontrou São Damião e reconstruiu o lugar da inspiração; mas lá não deixou os seus irmãos. Porém, após reconstruir São Damião ali deixou Clara. Ele sabia que Clara daria o brilho definitivo ao lugar. Clara é tão segura que se inspira numa experiência concreta. Diz a obra acima citada: “Enfim, a jovem faz-se discípula deste jovem convertido, para viver o santo Evangelho numa forma de vida semelhante à sua. O que a palavra e o testemunho de Francisco fazem penetrar no seu íntimo está em admirável sintonia com quando o Espírito lhe sugeria interiormente” (Cremaschi, p. 39).

Clara tem uma opção própria, mas se apoia numa experiência concreta já iniciada por Francisco. O Amado é o Amor amado por ambos. Os dois se encontram num mesmo caminho de Amor.


Fonte: Carisma Franciscano