
Frei Zilmar Augusto Moreira de Oliveira, OFM
Olhando a triste realidade no oriente médio, é impossível não nos sentirmos atingidos, tocados e solidários, mesmo que de um modo ainda muito distante. Pessoas sendo perseguidas, torturadas, assassinadas... Pessoas tendo suas vidas desconstruídas, famílias sofrendo angustiante separação entre pais e seus filhos, famílias vivendo as sedes dos desertos intermináveis, famílias em campos de concentração sem o mínimo necessário, famílias inteiras perambulando pelo mundo sem norte, sem saber o que fazer ou que rumo tomar, mas querendo proteger suas vidas e dos seus de homens perversos.
Hoje, enquanto rezávamos as Laudes, um cântico chamou-nos a atenção. Este era o cântico do Livro do Profeta Jeremias 14, 17-21. Bem sabemos da significação dos salmos, dos cânticos e da Palavra de Deus em nossas vidas. Por isso, não temos aqui a pretensão de fazermos, grandes discussões, mas apenas olharmos e sentirmos que esse cântico retrata a grande crise humanitária deste povo desterrado e aflito: “Que meus olhos derramem lágrimas, noite e dia sem parar, pela terrível desgraça capital do meu povo, por sua ferida incurável. Se saio para o campo, aí estão os transpassados pela espada; se entro na cidade, aí está o horror e a fome. Tanto o profeta como o sacerdote percorrem o país, e não sabem o que fazer”.
Diante desse acontecimento real não sabemos mesmo o que fazer. O povo está angustiado, desesperado, e nós com eles. Até mesmo o profeta, o sacerdote e o religioso que vivem com esse povo andam sem saber o que fazer, que decisões tomar. Muitos são missionários, vindo de outros países, de outras culturas. Poderiam sair, procurar salvar suas vidas. Entretanto, eles não abandonam o povo que os acolheu. Enquanto ali estiver a mais frágil pessoa humana, eles ali também estarão, mesmo que entre mortes, guerras, fome e perseguição.
O mundo, ante tal situação, se move por muitos comportamentos. Desde países que se fecham e constroem muros em torno de suas cidades para não deixá-los entrar, até países movidos pelo tom da hospitalidade, que escancaram suas portas a fim de deixar entrar um povo ferido e machucado. Lembro-me da proposta do Papa Francisco, pedindo que cada convento, cada paróquia, cada instituição da Igreja Católica no mundo acolhesse uma família refugiada, acolhendo, ele mesmo, duas famílias no Vaticano. Isso é sinal de humanidade!
A partir dessa pequena contextualização, desta realidade que está diante de nós, o desfecho do cântico nos convida à súplica confiante: “Mas, por causa do teu nome, ó Senhor, não nos abandones! Em ti nós esperamos!” Acredito que deve ser este trecho que inebria a permanência de tantos irmãos e irmãs neste lugar. Por isso, enquanto rezávamos este cântico, não saia do pensamento esta triste realidade. Este cântico nos fez entrar em comunhão com os sofrimentos de um povo longínquo. Deste modo, não deixemos de, em nossas orações e celebrações, rezar pela vida deste povo, pela paz no mundo, pela perseverança de tatos religiosos e religiosas que testemunham com a própria vida o Evangelho de Cristo, e peçamos ao Senhor que faça crescer em nossos corações a sensibilidade diante dos sofrimentos alheios, a graça de chorar por tantas vidas inocentes feridas e ceifadas.