Frei Dorvalino pede retorno às Fontes Franciscanas



Frei Everton Leandro Piotto, OFM

Frei Dorvalino Francisco Fassini, frade da Província São Francisco de Assis (RS) e um estudioso e divulgador das Fontes Franciscanas, foi o pregador do segundo dia (28/10) do Curso de Franciscanismo em Rondinha (PR). A formação do período matutino apresentou aos ouvintes uma leitura da vida e espiritualidade franciscana relacionada à Igreja, à sociedade e à mística cristã. E como não poderia deixar de ser, o pregador terminou com um desafio inspirador: quão precioso seria o ressurgimento de grupos franciscanos de estudo em todas as comunidades onde se encontrassem consagrados franciscanos, grupos que se dedicassem a conhecer melhor a espiritualidade franciscana a partir de leituras, pesquisas e partilhas.

Frei Dorvalino presidiu a celebração Eucarística do dia, festa dos apóstolos São Simão e São Judas. Na sua homilia disse que “a espiritualidade franciscana se alimenta e encontra sentido de ser na Missa. Foi depois de ouvir o Evangelho que Francisco de Assis decidiu: é isto que eu quero, é isto que eu desejo de todo coração”. Já na homilia, o pregador, com poucas palavras, fez sábias provocações. Levou os consagrados e leigos a refletirem sobre o que é ser um franciscano nos dias de hoje e os estimulou a procurar, dentro de si, o real sentido do chamado a que se decidiram por responder. O frade gaúcho fez uma relação entre os apóstolos celebrados hoje e o chamado divino a Frei Francisco e seus companheiros para uma vida de entrega e doação no amor ao simples e marginalizados.

Frei Fábio César Gomes, o mestre da Fraternidade São Boaventura, apresentou o convidado deste dia de formação. Para surpresa de todos, Frei Dorvalino iniciou sua fala com um ato penitencial, reconhecendo ser indigno e incapaz de falar sobre um homem e uma espiritualidade tão preciosos e intensos como o foram São Francisco e o legado construído a partir dele. Diante das sábias palavras do franciscano em relação à Vida Consagrada, à Igreja, aos Papas – especialmente Papa Francisco – notava-se, da parte de cada participante, grande atenção e desejo de conhecer mais sobre a Vida Consagrada Franciscana.

RETORNO ÀS FONTES

A formação do período matutino apresentou aos ouvintes uma leitura da espiritualidade franciscana relacionada à Igreja, à sociedade e à mística cristã. Apreciou-se a figura de São Francisco como um personagem atual, que nos alcança com seu testemunho e exemplo. Um nome que permeia o imaginário popular com toda força e vigor, marcando os corações e provocando a sociedade a intensas reflexões, especialmente quanto ao ser e ao ter. O Poverello que inspirou papas, apresentou novas esperanças a ricos e pobres, idosos e jovens, homens e mulheres e ainda hoje chama, convida, interroga, propõe novos caminhos a todos. O religioso destacou enfaticamente que é por tudo isso que o retorno às Fontes Franciscanas e aos Escritos de São Francisco torna-se o grande motivador da caminhada dos consagrados e consagradas nos dias atuais. Retornar às Fontes para 'beber água pura', para rever o que deu certo e o que ainda precisa ser modificado. Somente a partir deste retorno é possível compreender o verdadeiro sentido de vida consagrada que pode mudar o mundo: a dinâmica do encontro. Segundo Frei Dorvalino, este encontro proposto pelo Papa Francisco na Encíclica Evangelii Gaudium é o grande mistério capaz de despertar no coração do homem, a nova civilização; o sofrimento que o ato de sair de si em direção ao coração do outro pode nos provocar é o mesmo capaz de gerar a morte em cada indivíduo, mas uma morte que conduz e frutifica na vida nova, sempre à luz de Cristo.

Segundo o frade, esse encontro muitas vezes falta às famílias, falta às comunidades cristãs, falta à sociedade impregnada de individualismo e indiferença. Tais reflexões ajudam a entender o porquê de a espiritualidade franciscana ainda ser atual e necessária à Igreja, à sociedade e ao mundo. Para o frade, a espiritualidade é que sustenta a fraternidade (lugar do encontro consigo mesmo e com o outro), onde a morte do velho homem cede lugar à vida transformadora e contagiante, tão desejada pela Igreja e proposta pelo Santo Padre, o Papa Francisco.

Durante o almoço, a convivência e a preciosidade das relações fraternas se fez mais uma vez presente através das partilhas e da refeição comunitária, ao final com a celebração do aniversário de fundação das Irmãs Franciscanas de São José. À tarde, Frei Dorvalino apresentou de modo claro e inspirador reflexões em torno da vida fraterna, relacionando as novas congregações que também bebem no carisma franciscano, sem deixar de lado os irmãos da Ordem Terceira Franciscana. Terminou-se o encontro vespertino com referências à Santa Clara através de breve estudo sobre a Primeira Carta a Inês de Praga, com nuances à sua vivência evangélica e seu desejo em afirmar-se “plantinha” de São Francisco. A belíssima concepção clariana da vida fraterna e do sentido de ser franciscano abriu os olhos dos presentes a um amor materno-filial necessário às comunidades, oriundo da forma como Santa Clara expressava-se às irmãs em suas cartas.

Frei Dorvalino terminou sua assessoria ressaltando que a Ordem Franciscana inaugurou um novo modo de ser na Igreja: um modo apostólico, o qual hoje precisa, mais do que nunca, ser resgatado e revivido nas comunidades religiosas. Terminou com um desafio inspirador: quão precioso seria o ressurgimento de grupos franciscanos de estudo em todas as comunidades onde se encontrassem consagrados franciscanos, grupos que se dedicassem a conhecer a espiritualidade franciscana a partir de leituras, pesquisas e partilhas com o único intuito de provocar e transformar a visão de mundo que permeia todos os setores da sociedade contemporânea.

CONVÍVIO FRATERNO

A partilha e a convivência fraterna, seja no café da manhã, nos cafezinhos, refeições, deixavam à mostra o calor e a alegria dos irmãos. Estes, desejosos de se conhecerem uns aos outros, descobrirem novas amizades, encantarem-se com o serviço e o trabalho de tantos filhos e filhas de São Francisco vivendo em fraternidade. É um momento de reaprenderem o significado do calor humano, que em muitos lugares, infelizmente, está esquecido. Do mais jovem ao mais experiente, todos são convidados a mergulharem, a cada momento, na beleza e riqueza espirituais do carisma, que frutificou a partir de Francisco de Assis.

Neste encontro, podia-se ver que o que se destacava não era a diferença de gerações, nem a quantidade de obras ou números congregacionais, tampouco as estruturas complexas ou regras estabelecidas. Pelo contrário, o que saltava aos olhos de todos era simplesmente o carisma em si, este amor que todos os presentes experimentavam uns com os outros, o qual apresentava-se como o elo comum de unidade, que nutria e estreitava os laços fraternos entre os irmãos ali presentes. A alegria de uns contagiava a todos, o testemunho de outros invadia a alma de tantos dos presentes e, quão bela surpresa, descobrir e celebrar o aniversário de fundação da Congregação das Irmãs Franciscanas de São José, de onde se ouse dizer, que a invocação das bênçãos de Deus sobre elas era na verdade um pedido de bênção sobre toda a Família Franciscana, a qual concelebrava também seu dom e sua existência, na vida e no trabalho destas mulheres que tudo de si ofertam ao Senhor.