
A estória a seguir ilustra bem a importância do clima para o êxito das organizações, e como nós podemos agir de modo a contribuir para produzir os resultados esperados.
Conta-se que houve numa época da história um mosteiro que estava passando por momentos muito difíceis, mas que já vivera no passado um longo período de prosperidade. Devido, inicialmente, às perseguições que sofreu e posteriormente às grandes mudanças que o mundo vem passando, todos os demais mosteiros que eram vinculados à “casa-mãe” foram fechados, restando apenas este que contava com somente cinco monges, o abade e outros quatro, todos anciãos. Para todos eles estava claro que se aproximava o fim daquela ordem religiosa que tanto bem havia feito para inúmeras pessoas ao longo de sua história.
Além disso, algo mais os entristecia profundamente: era o fato de saber que estavam envelhecidos e que, dominados pela rotina dos tempos, sequer vislumbravam a possibilidade de renovação e perpetuação dos valores humanos e espirituais há tantos séculos cultivados e transmitidos pela ordem religiosa.
Preocupados com a situação, resolveram consultar um rabino que de vez em quando aparecia para fazer seu retiro espiritual em um bosque nas proximidades do mosteiro. O rabino era conhecido por sua sabedoria, desenvolvida com os estudos, meditação, silêncio e oração. Para ele sempre acorriam as pessoas na busca de conselhos. Sabendo disso, os monges também o procuraram para um diálogo que pudesse lhes proporcionar uma solução para o problema que os angustiava.
Certa manhã, o velho abade dirigiu-se ao eremitério onde costumava ficar o rabino para ouvir dele se haveria alguma possibilidade de salvar o mosteiro. Após compartilharem suas histórias, suas inquietações e angústias, o rabino e o abade choraram juntos, leram a Torah, meditaram sobre as coisas mais importantes da vida e oraram. Nada de conselhos que pudessem ajudar a ordem religiosa …
Ao se despedir, porém, o abade insistiu mais uma vez, quase suplicando por, quem sabe, um sinal que o ajudasse a encontrar um caminho … O velho sábio, voltando-se para ele, disse que sabia que o Messias, há tanto esperado por ele, seria um dos monges.
Um tanto quanto frustrado com a visita e ao mesmo tempo perplexo com a resposta dada pelo rabino e sem entender propriamente seu sentido, o abade voltou para o mosteiro e contou para os demais tudo o que havia ocorrido.
Passaram-se dias, semanas, meses. Os monges intrigados puseram-se a refletir sobre o possível significado da resposta do rabino.
– O Messias, um de nós?! Será que ele quis dizer mesmo um de nós, aqui desse mosteiro? Se é o caso, quem seria? Será o próprio abade ou será o Irmão Tomás? Ou, quem sabe, o Irmão Filipe? Não, o Irmão Pedro não pode ser, ele às vezes se irrita … se bem que, quando paramos para analisar, chegamos à conclusão de que ele está certo. É claro que o rabino não se referiu a mim, eu sou tão comum … mas e se ele estiver certo … oh! Meu Deus, não pode ser!
Assim, cada um deles pensava sobre si mesmo e sobre os demais e, na medida em que pensavam, os velhos monges começaram a se tratar com tanto respeito, com tanta reverência, com tanto afeto que algo começou a mudar entre eles.
Aos poucos cada monge descobriu-se a si mesmo como um possível Messias, com valores, capacidades e atitudes até então não percebidos por si mesmo e pelos demais. Ao mesmo tempo, passaram a olhar de outra forma os outros companheiros, procurando identificar neles suas melhores características e potenciais que poderiam ser do Messias presente neles. E assim começaram a se valorizar mutuamente, cuidando uns dos outros com dedicação e também de todo o espaço por onde cada um transitava.
Essa redescoberta proporcionou a todos uma renovada alegria e disposição, transformando aquele ambiente e impregnando toda a atmosfera do lugar de tal modo que logo foi percebido pelas pessoas que ocasionalmente visitavam o convento e seus arredores para passeios turísticos.
E sem que entendessem o motivo, começaram a perceber que cada vez mais as pessoas passaram a visitar o velho mosteiro e paravam para contemplar sua arquitetura, para passear em seus claustros, para conversar com os monges, para brincar nos seus átrios, fazer piquemques e para orar …
Texto extraído do livro “A Perfeita Alegria – Francisco de Assis para líderes gestores”, de Robson Santarém, Editora Vozes, 2010