Boaventura nasceu em Bagnoregio, próximo a Viterbo, Itália, em 1217. Filho de Giovanni de Fidanza, um médico, e Maria di Ritella, conta-se que, em sua infância, durante grave enfermidade, a mãe fez uma promessa a São Francisco, graças à qual ficou curado.
Na Legenda Menor, biografia de São Francisco, no qual redigiu, Boaventura deixa um precioso testemunho auto-biográfico: “Emitido, pois, um voto por minha mãe ao bem-aventurado pai Francisco a meu favor, pois que eu estava gravissimamente doente quando ainda era criança, fui arrancado das próprias fauces da morte e restituído incólume ao vigor da vida. (Lm, VII, 8, 2).
Há indícios que Boaventura tenha compartilhado a vida dos Irmãos Menores desde a infância. Supõe-se, com efeito, que cursou os estudos primários no convento franciscano na sua terra natal. Pode-se presumir, ainda, que os mesmos irmãos, impressionados com sua inteligência excepcional, o tenham encorajado a prosseguir os estudos em Paris.
Entre 1235 e 1242 foi aluno da Faculdade de Artes, em Paris, onde, ao dedicar-se aos tradicionais estudos de artes liberais, entrou em contato com a Filosofia greco-árabe, que aos poucos penetrava no Ocidente.
Entre 1243 e 1248 estudou Teologia, tendo como mestre Alexandre de Hales, então o mais famoso professor da universidade que, pouco antes, para a admiração geral, ingressara na Ordem Franciscana. Movido pelas vivências de infância e pelo exemplo do professor, ao qual mais tarde haverá de referir-se com reverência e saudade, Boaventura também fez-se frade.
Cumpridas as exigências curriculares, em 1248, tornou-se bacharel em estudos bíblicos, o primeiro grau da vida docente de então. Em 1250, passou a bacharel sentenciário, isto é, autorizado a comentar em aula os Livros da Sentenças de Pedro Lombardo.
Durante quatro anos que se seguiam, Boaventura redigiu a parte mais importante de sua obra: os Comentários às Sentenças, que ocupam 4 dos 9 volumes de sua obras completas. Em 1254 atingiu o auge d carreira universitária, ao obter o título de magister – mestre. Nesta condição, dirigiu algumas disputas solenes, as quaestiones disputatae, como eram então chamadas.
Mas sua atividade foi interrompida abruptamente em 1257, ao ser eleito Ministro Geral dos franciscanos, no mês de fevereiro. Contava então 39 anos de idade.
A produção intelectual de Boaventura, como professor, estendeu-se de 1248 à 1257, por nove anos, portanto. Depois, diminui-se seus escritos, voltados mais para temas de vida mística e para a reorganização da ordem franciscana.
No século passado, tratou-se de fazer uma edição completa e crítica de suas obras, num trabalho de grande fôlego que envolveu, entre outras coisas, a cópia de mais de 50 mil manuscritos nas diversas bibliotecas e arquivos da Europa: foi a célebre edição de Quaracchi, tida hoje como modelo de trabalho com textos medievais.
O resultado foi um conjunto de 9 volumes, em grande formato, aos quais acrescentou-se um décimo, com índice e estudos. Conforme a ordem seguidas pelos editores, e indicando o ano de composição, pode-se dividir em cinco grandes partes as obras de São Boaventura: Escritos teológicos e filosóficos; Comentários a livros da Bíblia; Escritos místicos; Escritos referente à ordem franciscana; Sermões.
Como Ministro Geral, Boaventura assumia o governo da Ordem dos Frades Menores, que passado 31 anos da morte de São Francisco, possuía cerca de 30 mil membros, distribuído em mais de mil fraternidades, e que vinha sendo ameaçada por diversas tendências extremistas.
Fora reeleito cinco vezes para o cargo, fato sem paralelo na história da Ordem. Ao mesmo tempo em que defendia o ideal franciscano de vida contra adversários externos, pôs todo o empenho em conciliar os diversos movimentos internos dentro da própria Ordem.
Desde que fora admitido ao ofício de pregador, em 1252, não perdeu a oportunidade de fazer uso do direito e do privilégio de repartir o pão da Palavra de Deus. Sua fama como orador sacro é atestada por números escritores contemporâneos.
Segundo Frei Francisco de Fabriano, um dos seus ouvintes, “era dotado da mais eloquência, admirável no entendimento da Escritura e de toda a teologia, os seus sermões ao clero e suas pregações ao povo eram uma beleza incomparável; tanto assim que, na sua presença, aonde quer que fosse, todas as outras línguas calavam”.
Como Ministro Geral, não deixou passar sem respostas as diversas críticas às Ordens Franciscana e Dominicana, sobretudo no qual se referia a pobreza evangélica.
Frente as ofensivas, em 1269, dos teólogos seculares Gerardo de Abeville e Nicolau de Lisieux, Boaventura reagiu com sua “Apologia dos pobres”, na qual defende o ideal de uma vida de pobreza e desprendimento dos bens terrenos, tal como Cristo recomenda aos seus discípulos, e como Francisco de Assis fizera reviver.
Desde os primeiro anos de seu generalado, Boaventura se dera conta que para consolidar a vida interna da Ordem era necessário uma legislação adequada.
Em 1260, em Narbona, apresentou no primeiro Capítulo Geral por ele convocado um projeto de Constituição que atendesse as necessidades da Ordem no período de crise que então atravessava.
Sabemos que a medida não se deu à falta de disposições legais no seio da Ordem, mas a falta de coerência e unidade interna. Assim nasceu as Constituições de Narbona, que irão servir de modelo para toda a legislação posterior da Ordem.
Durante o Capítulo de Narbona, os capitulares incumbiram Boaventura a tarefa de redigir uma nova biografia de São Francisco, a qual, “à semelhança das Constituições, fundisse numa redação ordenada os materiais até então dispersos pelas ‘legendas’ anteriores, notadamente nas de Tomás de Celano.
São Boaventura tinha consciência da vontade unanime de tudo fazer para ressuscitar o espírito de Assis. A Ordem conhecera um crescimento prodigioso que ameaçava lhe enfraquecer a inspiração profunda. Era preciso tornar presente a figura, a alma do Pai.
Escrita embora com fidelidade escrupulosa aos fatos e, sobretudo, com grande amor e com uma sensibilidade profunda do essencial, a obra de Boaventura dista enormemente das encantadoras narrativas dos Três Companheiros e das demais coletâneas do gênero, sem excluir as “Vidas” de Tomás de Celano.
A nova biografia deve ter correspondido às expectativas dos confrades, ou, pelo menos às dos ministros provinciais, pois foi aprovada no Capítulo Geral de Paris, em 1926.
Quis a Providência que a vida de Boaventura, encerra sob o signo da reconciliação da cristandade universal.
Assistido pelo Papa Gregório X, não resistiu a enfermidade do corpo e faleceu na madrugada do dia 15 de julho de 1274, no convento dos Irmãos Menores de Lião.
A mais bela homenagem ao Doutor e Santo, deparamo-la nos próprios anais do II Concílio de Lião, onde dedicou seus últimos esforços e dedicação: Na madrugada do dia 15 faleceu o Irmão Boaventura, bispo de Albano, de feliz memória.
Foi um homem de grande ciência e eloquência, eminente em santidade e misericórdia, assinalado, em vida pela excelência dos costumes; bom, afável, piedoso e compassivo, cheio de virtudes, querido de Deus e dos homens.
Foi sepultado no mesmo domingo (que faleceu) na casa dos irmãos menores de Lião.
Assistiram às suas exéquias o Senhor Papa com todo os prelados presentes ao Concílio e toda a Cúria. Frei Pedro de Tarantaise, bispo de Óstia, celebrou a missa e pregou sobre o tema: ‘Jônatas, meu irmão, meu coração chora por tua causa’. Deus, com efeito, lhe concedera uma graça especial: a de conquistar, incontinenti, o amor cordial de quem quer que o visse.