Reflexão para esta Quinta-feira Santa...


Frei Vitor Amâncio, ofm


“Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também”.

Contemplamos hoje a passagem do Êxodo na qual o Senhor institui a memória da Páscoa, esta como ceia cujo alimento principal era um cordeiro sem defeito. Seu sangue deveria ser vertido no cair da tarde, consumido e marcar o portal das casas dos hebreus que viviam no Egito.

Tal rito, de memória perpétua, deveria ser feito às pressas, pois a saída da escravidão se aproximava e o povo de Deus para ela deveria estar preparado. Hoje, nós Cristãos vemos uma alusão a Jesus, cordeiro sem mancha, que por seu sangue nos libertou de todo mal e entregando-se em cada eucaristia nos revigora na caminhada da Igreja.

No testemunho de Paulo, o Senhor ao tomar o pão, deu graças e, partindo-o, o entregou aos seus discípulos, assim, partindo um só pão para todos na mesa, Jesus faz com que todos sejam participantes daquela Aliança, nova e eterna, que Ele instituíra. Na língua de Cristo, o dizer: isto é meu corpo; implica dizer o mesmo que: isto sou eu mesmo. Dessa forma Jesus antecipa sua consumação na cruz durante a ceia, entregando-se na totalidade do seu ser a cada um dos seus que ali estavam.

Exatamente por esta razão que no dia de hoje fazemos memória, tanto da passagem do povo de Deus, da escravidão para a liberdade, quanto da entrega total de Cristo na cruz fazendo-nos passar da morte para a vida.

Nesta belíssima passagem do Evangelho, João abre o relato dizendo que Jesus sabendo que chegara sua hora de passar deste mundo para o Pai e tendo amado os seus, amou-os até o fim. Por isso, vemos Jesus que durante a ceia se levanta e, depondo o seu manto, cinge-se com uma toalha (vestimenta típica de um servo naquela época) a fim de lavar os pés dos discípulos. Esse ato mostra a humildade de Cristo, que não se apegou a sua condição, mas assumiu a forma de um escravo (Fl 2,6-7).

Como seguidores de Cristo, essa passagem nos convoca à imitação da minoridade de Nosso Senhor, servo da humanidade, que nos aponta um caminho que não gera vencedores e vencidos, vitoriosos e abatidos, mas somente irmãos em comunhão.

Que neste dia nos deixemos cativar pelo exemplo da humildade de Cristo e que pela força de sua humano-divindade, entregue a nós em cada eucaristia, e nos tornemos cristãos imbuídos na cultura do cuidado com cada um de nossos semelhantes, preferencialmente com os mais simples e desfavorecidos. Lava-pés não se reduz a uma simples memória que evoca um feito de Jesus, mas antes nos impulsiona a cumprir, de forma existencial, o pedido: como eu fiz, vós façais também.

Rezemos também por todos os sacerdotes que hoje celebram seu ofício de perpetuar ao longo da história o mandato: fazei isto em memória de mim. Igualmente, que neste dia possamos rezar como São Francisco: Pasme o homem todo, estremeça a terra inteira, rejubile o céu em altas vozes quando, sobre o altar, estiver nas mãos do sacerdote o Cristo, Filho de Deus vivo! Ó grandeza maravilhosa, ó admirável condescendência! Ó humildade sublime, ó humilde sublimidade! O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência do pão. Vede, Irmãos, que humildade a de Deus! Derramai ante Ele os vossos corações! Humilhai-vos para que Ele vos exalte! Portanto, nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá! (Carta a toda Ordem)
  
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